sexta-feira, 5 de abril de 2013

grão de areia

Se pensarem em mim imaginem-me como um minúsculo grão de areia no meio de um deserto.
Hoje, sou um ser pensante que sente um fervor de escrever, de reorientar e organizar um universo de questões que se desfiam infindavelmente ficando sob uma forma confusa e acabo por ficar como um Tales de Mileto, a contemplar o universo.
Quem ainda não se espanta com vida? Consigo mesmo, aliás espantamos terrivelmente quando somos irremediavelmente puxados pelos grilhões deste fado, que nos controla como marionetes. Será que pensamos até no instante que antecede todo o erro? É claro que sim, surge como uma tela a preto e branco, ridiculamente lento e cristaliza a origem, o nascimento de todo o erro que atraiçoa esse estranho racionalismo que somos feitos.
Mas esta sede de especular sobre o universo está em nós desde tenra idade e que ironicamente provoca cada ser pensante, principalmente quando falhamos e relembra-nos que o mundo e toda a sua ausência de sentido têm nele uma inteligência superior e de carácter extremamente enigmático, que nunca conseguiremos apreender uma imagem completa daquilo que realmente é. Enfim, abrange-me todo este início de teor quiçá religioso e sob contornos místicos.
Mas, como ainda acalento aquela infantil atitude de querer encontrar um sentido racional para todo este rol de dúvidas e de vias, procuro, mas faço-o como se nunca tivesse caído uma única vez, sem sentir todo aquele esgotante sentimento de desgosto e de frustração imanente de qualquer adulto que vagueia neste mundo. Sou uma tola como tu, procuro entender todos estes preâmbulos labirínticos e perco-me, mas não me perco sem antes soltar o louco que continua cegamente depois de mim, uma sequência que é espelho de todos os comportamentos desses outros rostos lívidos que caminham ao meu lado.
Por vezes, esqueço-me que este cogitar pode levar ao arrebatamento final, mas deixo-me ir, como uma criança tento identificar as côdeas do pão deixadas para trás na minha anterior passagem numa floresta impregnada de sombras e luzes: anseio em encontrar solo racional para entender todo este muco de crueldades e de misérias que se encontra em todo o lado.
Sei que alguns já enlouqueceram, mas como sei que ainda não o estou? Relembro-me de uma conversa entre o Gato de Cheshire e Alice:
- Mas eu não quero me encontrar com gente louca", observou Alice. " Você não pode evitar isso", replicou o gato. "Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco, você é louco". "Como você sabe que eu sou louca?" indagou Alice. "Deve ser", disse o gato, "Ou não estaria aqui".
O país das maravilhas é uma parcela escondida no nosso sistema neurológico, uma fuga para todas as loucuras, mas no fundo é um espelho deste mundo louco, ainda mais louco que o mundo do matemático inglês Charles Lutwidge Dodgson, sob o pseudónimo de Lewis Carroll.
A sua imaginação na sua opinião é como a matemática infinita e possível como surpreendente em todas as suas combinações. Ainda bem que sofro de parte desse mal, um mal necessário que fustiga a cair em devaneios quando sinto uma aguda dor de incompreensão sobre o rol de esquemas que se apresentam perante mim.
Sou eu, Ana, um pequeno grão de areia igual a ti.

Sem comentários:

Enviar um comentário