quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Fragmentos




Ele grita e esperneia, quando devia ser eu a dar voz a tudo que me aflige e me deixa em desassossego.
No fundo estamos mortos, mas somos mortos entretidos que habitam neste mundo. Um mundo impessoal e consumido por almas deprimidas. 
Lá fora o sol queima e jaz no ar um cheiro enegrecido e queimado. Somos nós, seres desviantes que facilmente se deixam morrer fixando o chão. Luzes decadentes surgem nos olhos, corpos e corpos, reunidos. 
Hoje sinto-me distante, dedicada a mim mesma e aos meus pensamentos. Este simulacro de texto deixa-me abismada, salientam-se como trechos dos meus pensamentos, abstenho-me em deixar deslizar aquilo que ostento de mais intimo. Há dias assim, por mais brilhantes e prometedores não me deixo seduzir. 
Sinto-me de tal forma presa mentalmente, que vivo em suspensão. Há demasiados preconceitos, forma-se sucessivamente gerações de escárnio que prendem-me em impressões. Estas surgem como grilhoes que me prendem. Os seus comportamentos monótonos aborrecem-me, mas já está de tal forma entranhado que imito esse formato. Não há saída para vidas tecidas na intriga. A ecceidade que me conduz é desconhecida, mas a curiosidade que me atrai interessa-me e fico analisar o outro como se fosse um objecto e moldo cada manifestação como se fosse uma peça num imenso puzzle. No final, descrevo-as mentalmente, no intuito de findar a minha indagação, mas apenas aumenta a minha inquietação.



Mosteiro Santa Maria de Alcobaça
Após, esperarmos um pouco, finalmente e com agrado recebemos o aval positivo para a nossa visita. E, sendo guiados através da Ana Margarida Martinho permitiu-nos viajar no tempo conhecendo a história, a organização social, a simbologia e as funcionalidades que o Mosteiro oculta. Assim, embebidos a cada palavra tivemos oportunidade de vislumbramos por pequenos instantes como foi no início o esforço para construir o Mosteiro, algo que nos fascinou e absorvemos cada informação com redobrado orgulho, uma vez que estamos tão próximos da data da comemoração dos 25 anos do Mosteiro como Património da Humanidade. É evidente que a Ana Martinho não se estendeu em detalhes, apesar da minha curiosidade, mas palmitou sobre os pontos fulcrais no seu ponto de vista estratégico, fomentando e apontando as visíveis técnicas em alguns pormenores da construção do Mosteiro, ao qual foi elevado e decorado na época. Um facto que o torna uma das obras-primas da arquitetura. No entanto, não tivemos oportunidade para visitar todas as alas do mosteiro e só entramos em algumas: como a igreja, os famosos túmulos de D. Pedro e D. Inês de Castro, que fascinou não só o povo português, reis, mas também teve o mesmo efeito sob os franceses que profanaram o túmulo de D. Inês, para descobrir possíveis tesouros no seu interior ou contemplar a mulher que deixou cativo um rei em vida e na morte. Uma história, que até hoje é considerada uma das mais trágicas histórias de amor de Portugal. E visitamos também a sala do Capítulo, a Sacristia, a Capela das Relíquias, o Parlatório, o Refeitório, a Cozinha Velha e Nova e por fim o claustro da hospedaria. Todavia, despertou-nos o interesse em preservar e manter toda a riqueza patrimonial medieval que o Mosteiro até aos nossos dias ainda apresenta. Uma tentativa que pode cativar alguns para futuras referências do ponto de vista turístico. O Mosteiro foi a primeira obra que espelha em toda a sua construção o estilo gótico inicial: um gótico despojado de ornamentos, simples que se enquadrou facilmente nos parâmetros que os monges cistercienses procuravam, pois orientavam-se por uma rígida disciplina que os mantinha sempre concentrados na sua contínua meditação e pretendiam ser o exemplo da renúncia. É claro que desde a construção do Mosteiro no século XII ao século XIX, o mosteiro foi absorvendo todos os estilos arquitetónicos que foram surgindo como o estilo romântico, o rococó, o barroco. Um misto de estilos que se patenteia como uma peça experimental pela longevidade da sua construção, mas de enorme interesse. Esta visita foi muito prometedora, pois com ela adquiri novos conhecimentos acerca de um monumento que passo habitualmente e conheci alas do mosteiro que me surpreenderam imenso pela sua riqueza de pormenores e no seu todo o Mosteiro de Alcobaça parece mais vívido ao meu olhar. Em última instância, há críticas que devem ser tecidas: o mosteiro carece de visitas guiadas, de técnicas de animação para não só ser só uma visita lúdica, mas viva e próxima. É necessário dar ao turista uma experiência, que lhe forneça imagens, cheiros e que fique para sempre. O mosteiro de Alcobaça estatisticamente tem imensas imensas visitas que surpreendemente ultrapassam as visitas do Convento de Cristo de Tomar, turistas que são cativados pela beleza da Igreja, mas nunca chegam a conhecer o interior do mosteiro e acima disso nunca chegam a conhecer áreas reservadas, extremamente ricas, mas que por desconhecimento do turista nunca chegam a entrar. É imprescindível dar a conhecer melhor e com mais qualidade o Mosteiro de Alcobaça. E, não posso deixar de reconhecer que muitos passam e apenas contemplam o mosteiro, e entristece-me esta falta de cuidado e estagnação que está deposto o Mosteiro por não aproveitarem melhor este património. A feira de doces/licores conventuais de Alcobaça, ilumina as suas paredes, retira-o da penumbra e revela-se num esforço notável que patenteia que o Mosteiro pode ser usado não só para um evento, mas tem potencialidades para muitos, mas é necessário traçar novos caminhos e procurar novas vontades para mostrar todo o seu esplendor junto da sua comunidade portuguesa e estrangeira, isto para fazer valer duas frases que se encontram à entrada de Alcobaça: " Quem passa por Alcobaça/ Não passa sem lá voltar".