sexta-feira, 31 de julho de 2015

Álvaro Laborinho na Nazaré

Álvaro Laborinho cedo se cativou pela imagem, pela intensidade das cores que aprisionava num pequeno pedaço de papel. E, inconscientemente no fervor da sua paixão deixou-nos o legado de um registo detalhado da evolução da vila da Nazaré e acima disso retratou as suas gentes. E sob a sua óptica de fotógrafo traçou realidades, aprisionou histórias, acabou por pincelar como um artista de tela um elemento dominador, o mar. O seu trabalho fotográfico amplia e forja em nós uma visão mais justa e concreta da vida que a população nazarena tinha no passado, em cada imagem verifica-se verdadeiros testemunhos de cada existência transitória. Porém, é primordial para compreender e dar um certo ênfase, que observar e admirar uma só fotografia de Álvaro Laborinho é perder a visão de um todo. Mas, contemplar apenas uma fotografia, individualmente, compreende-se nessa imagem, um instante para sempre eterno, repleto de intensos significados, alguns sobrevivem até hoje. O seu trabalho despoletado pelo início da fotografia recria como num desfile andante a atmosfera vivida, expõe as suas cores, oferece uma ideia muito precisa das fachadas dos chalés, quiça reporta-nos para esta época e dá-nos uma visão panorâmica da opulência, do requinte vitoriano dos chalés que surgem em 1913, chalés que acabam por aprimorar a imagem a norte de toda arquitetura construida ao abrigo do promontório. Contudo, estes edifícios transmitem uma pálida importância daquilo que outrora já representaram para a Nazaré, edifícios, os quais atualmente a população nazarena como que tolhida num torpor deixa mortificar esta herança, sem a mínima preocupação, como se fossem construídos num estilo romântico e impera-se a ideia de morte anunciada. Um elemento na sua fotografia é os vultos das mulheres, sem rosto, sem proximidade, as quais retratam esta classe social da população piscatória, enegrecidas, quase que patenteia o sofrimento, a contínua espera. Assim, abordando a fotografia, reporta-nos para uma época de vida árdua, de intensa azáfama que decorria nesta vila piscatória, mas destaca o fim de um costume, o qual modifica a ornamentação quotidiana da vila piscatória. A visão rústica das embarcações na areia, tal como monstros marinhos adormecidos, são proibidas, mas mais tarde foi-lhes possível usufruir de um porto de abrigo em 1950, ganho obtido, após tantas vicissitudes da vida no mar. O quadro salienta também o início de uma nova era, da chegada dos veraneantes de Santarém e Tomar, uma passagem que para sempre se torna assídua por tomarem gosto à Nazaré e pelas propriedades curativas do mar. A importância que os turistas começam a ter na economia das famílias desta terra é fulcral e a sua vinda tem tido continuidade nas novas gerações. Uma relação extremamente profícua, a qual foi sendo incrementada de forma mais sólida e permite debruçar-nos sobre este importante registo de AL e compreender o nascimento do turismo na Nazaré e os efeitos colaterais, que estão ainda bem vincados. As suas nazarenas com as suas saias, os pescadores na pesca e os banheiros e as suas famílias foram os stakeholders pioneiros, todos eles de uma forma ou outra contribuíram positivamente para compor esta imagem pitoresca da Nazaré, fresca e colorida, uma imagem que deixou muitos inebriados e cativos pela beleza desta terra.